Futebol brasileiro pode perder quase R$ 70 bilhões nos próximos anos por eventos climáticos severos

Estudo inédito apontou como clubes das Séries A, B e C podem ser afetados por mudanças climáticas nos próximos 25 anos no Brasil

| TRIVELA


Ano de 2024 foi marcada pela influência das mudanças climáticas no futebol e no esporte em geral (Arte: Trivela)

Em maio de 2024, as cenas da Arena do Grêmio e do Beira-Rio inundados durante as enchentes de devastaram o Rio Grande do Sul chamaram a atenção do mundo do futebol. Os estádios da dupla foram diretamente afetados e tanto Grêmio como Internacional tiveram prejuízos milionários, para além das questões esportivas e humanas de tantas pessoas que dependem dos jogos nos dois locais para sobreviver.

Hoje, o Beira-Rio já funciona plenamente, mas a Arena do Grêmio, que sofreu mais com a enchente e ficou quatro meses sem jogos, ainda tem pendências para serem resolvidas, assim como a região dos arredores do estádio, onde cerca de 30 mil pessoas foram afetadas pela cheia do Guaíba.

Um ano depois das enchentes que afetaram Grêmio e Inter, um estudo inédito feito pelo Terra FC, com a consultoria ERM, revelou que as mudanças climáticas ameaçam nada menos do que 78% dos clubes das três primeiras divisões do futebol brasileiro.

De acordo com o relatório, publicado nesta sexta-feira (30), 47 dos 60 clubes das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro estão localizados em municípios com alto risco de eventos climáticos severos nos próximos 25 anos. Entre os riscos analisados, estão as inundações, incêndios florestais, secas e ondas de calor.

Entre os clubes mais ameaçados, estão os quatro maiores do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco), a dupla Grêmio e Inter e os também rivais Remo e Paysandu.

Qual o possível prejuízo dos clubes com eventos climáticos severos?

O relatório do Terra FC também apontou quanto os clubes brasileiros podem perder de valor de mercado nos próximos 25 anos pelas mudanças climáticas, assim, como o custo estimado para o reparo de infraestrutura, logística e a perda de receita no mesmo período.

De acordo com o estudo, os 60 cubes das Séries A, B e C somados podem perder R$ 68,8 bilhões em valor de mercado se afetados por eventos climáticos severos.

E o custo total estimado para reparo de infraestrutura, logística e a perde da receita é de R$ 2,91 bilhões.

Assim como em 2024, quando os clubes das divisões inferiores também sofreram no Rio Grande do Sul, para os clubes das Séries C, o prejuízo pode ser ainda mais impactante. De acordo com o relatório, 40% dos clubes da terceira divisão correm o risco de perder mais de 50% do seu valor de mercado pelas mudanças climáticas nos próximos 25 anos. Já 55% dos clubes das Séries A, B e C podem perder mais de 10%.

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Como foi feito o estudo do Terra FC?

Para fazer estes cálculos de possíveis perdas financeiras, o Terra FC levou em consideração as receitas dos clubes, ativos e indicadores de engajamento dos torcedores. E o relatório incluiu impactos diretos, como danos na infraestrutura dos estádios e aumento de custos operacionais, e danos indiretos, como cancelamento de jogos, inadimplência e redução da renda.

— Ainda que seja improvável que todos os efeitos negativos potenciais se concretizem simultaneamente, apenas um evento extremo – e estes vêm acontecendo com maior frequência e intensidade – é suficiente para desorganizar o fluxo de caixa de vários clubes – e, para algumas agremiações de divisões inferiores, torná-los inviáveis financeiramente — afirmou Fred Seifert, sócio da consultoria ERM.

Já para avaliar o impacto das mudanças climáticas, o relatório usou dados municipais combinados com as características físicas e geográficas dos locais, levando em consideração até a inclinação, o solo e a proximidade de corpos d'água. Também foram usados dados históricos e modelos climáticos do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para projetar mudanças nos padrões de chuvas nos próximos 25 anos.

Foram avaliados os riscos de inundação de rios, inundação urbana, inundação costeira, ondas de calor, incêndios florestais e seca. Os riscos de cada estádios foram classificados como muito baixo, baixo, médio e alto, além do “não se aplica”.

Qual a principal ameaça para os clubes brasileiros?

De acordo com o estudo, a principal ameaça para os clubes brasileiros é o risco de enchentes nos estádios. O relatório apontou que 40 dos 60 clubes analisados apresentam algum nível de vulnerabilidade crística a enchentes.

Isso se deve, principalmente, a proximidade dos estádios a corpos d'água, além do uso da terra ao redor dos estádios e inclinação dos terrenos. Clubes como o Grêmio, que já foi afetado em 2024, e o Brusque, estão entre os mais expostos. Além disso, alguns clubes do Nordeste também apresentam infraestrutura mais fraca, com uma estrutura de drenagem urbana menos eficaz.

Muitos clubes também podem sofrer com as consequências dos incêndios florestais. Para os clubes do Centro-Oeste, como Goiás, Atlético-GO e Cuiabá, de Minas Gerais e São Paulo, além de algumas cidades do Nordeste, este risco é considerado alto.

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O que pode ser feito para evitar estes riscos?

O relatório do Terra FC aponta cinco caminhos principais em que as ações de clubes, federações e ligas devem se concentrar para tentar lutar contra as mudanças climáticas.

— É fundamental compreender, também, que a ameaça do clima ao futebol vai além dos gramados. O esporte é parte do tecido da sociedade brasileira, com comunidades inteiras e economias locais dependentes dele. Diante do risco de que essas consequências se tornem irreversíveis, é urgente a necessidade de ações climáticas dentro da comunidade do futebol — apontou Laura Moraes, diretora de campanhas do Terra FC.



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